Doravante, passarei a publicar neste Blog os artigos do Professor José Augusto Carvalho. Publico-os no Blog da Marta Bellini, essa que vos escreve. Como os artigos são ótimos e refletem uma preocupação e prazer meus, aqui serão também apreciados. José Augusto Carvalho é professor de linguística na Universidade Federal do Espírito Santo. Não o conheço pessoalmente, mas já o tenho como amigo. Saúde!
A GRAMÁTICA ESQUECIDA
José Augusto Carvalho
A revista Istoé nº 2023, de 13 de agosto de 2008, nas páginas 44-5, trouxe uma reportagem intitulada “É faculdade, mas parece colégio”, em que denuncia a imaturidade emocional e o despreparo intelectual dos universitários. As faculdades acabam transmitindo aos seus alunos noções básicas de português e de matemática, porque eles pouco ou nada aprenderam no curso médio. Os universitários acabam aprendendo (quando aprendem) no curso superior o que deveriam ter aprendido no segundo grau.
Tenho insistido na cobrança de gramática, mas até o vestibular aderiu à moda do Enem, formulando questões em todas as disciplinas com base num único tema geral. Em relação à língua portuguesa, o que se nota é que as questões se centralizam na interpretação de texto, em que o candidato é obrigado a escolher a resposta que condiz com o que a banca interpretou empobrecendo o texto, por reduzir à paráfrase denotativa o que é rico em conotações e em leituras múltiplas.
Soube por um amigo que, numa escola reputada como excelente, uma coordenadora entrou numa sala de aula de cursinho onde um professor ministrava lições de gramática portuguesa e disse, na frente do professor, desautorizando-o, que os alunos não precisavam estudar nada daquilo, porque as questões de português, no vestibular, eram todas de interpretação de texto. Felizmente, naquele ano, fiz parte da banca, e insisti em gramática, na maioria das questões. Os cursinhos reagiram chamando de “traição” o fato de se terem exigido questões gramaticais!
O desconhecimento da gramática, por conta de um ensino deficiente, produziu uma consequência desastrosa: até mesmo professores formados desconhecem regras básicas de concordância e de coesão textual. Os universitários, por sua vez, aprendem toda a difícil metalinguagem linguística, mas não sabem distinguir o sujeito de uma oração. Linguistas sem preparo filológico ou sem maturidade atacam a gramática em livros demagógicos e cheios de erros doutrinários, inclusive linguísticos, como os de Marcos Bagno (A língua de Eulália, Preconceito lingüístico, Dramática da língua portuguesa, entre outros), que dizem aquilo que os professores querem ler e ouvir, mas não aquilo que deveriam saber. E tais livros são adotados não por terem algum mérito, que certamente têm, mas por fornecerem ao docente os argumentos de que precisa para justificar suas ideias preconcebidas.
Duas das soluções que preconizo mas que certamente não serão levadas em conta são: a primeira é a de que o vestibular deva ser por área ou, se se mantiver o vestibular unificado, a de que as provas sejam sequer (isto é, pelo menos) discriminadas por disciplina; e a segunda é a de que as redações dos vestibulandos devam ser corrigidas por professores de português que efetivamente entendam do riscado. Sei de pelo menos um professor que tem a audácia de participar da banca de correção das redações de vestibular e que não só manifesta de público sua ojeriza à gramática, mas também escreve mal, cometendo erros grosseiros de português em quase tudo que escreve, de tal forma que mal consegue redigir uma lauda sem cometer pelo menos um erro crasso.
Não entendo por que se devam pedir noções de química, de biologia, de física ou de geografia a um vestibulando que pretende fazer Direito ou Letras. Antes dessa aberração que é o vestibular unificado, cada faculdade tinha seu próprio vestibular e exigia conhecimentos pertinentes à área profissionalizante de sua especialidade. Não é por saudosismo que preconizo o retorno ao vestibular por área, mas por amor a um ensino mais eficiente e a um curso superior mais adequado às necessidades do aluno que o procura.
O resto é demagogia ou garantia de fracasso acadêmico
José Augusto Carvalho
A revista Istoé nº 2023, de 13 de agosto de 2008, nas páginas 44-5, trouxe uma reportagem intitulada “É faculdade, mas parece colégio”, em que denuncia a imaturidade emocional e o despreparo intelectual dos universitários. As faculdades acabam transmitindo aos seus alunos noções básicas de português e de matemática, porque eles pouco ou nada aprenderam no curso médio. Os universitários acabam aprendendo (quando aprendem) no curso superior o que deveriam ter aprendido no segundo grau.
Tenho insistido na cobrança de gramática, mas até o vestibular aderiu à moda do Enem, formulando questões em todas as disciplinas com base num único tema geral. Em relação à língua portuguesa, o que se nota é que as questões se centralizam na interpretação de texto, em que o candidato é obrigado a escolher a resposta que condiz com o que a banca interpretou empobrecendo o texto, por reduzir à paráfrase denotativa o que é rico em conotações e em leituras múltiplas.
Soube por um amigo que, numa escola reputada como excelente, uma coordenadora entrou numa sala de aula de cursinho onde um professor ministrava lições de gramática portuguesa e disse, na frente do professor, desautorizando-o, que os alunos não precisavam estudar nada daquilo, porque as questões de português, no vestibular, eram todas de interpretação de texto. Felizmente, naquele ano, fiz parte da banca, e insisti em gramática, na maioria das questões. Os cursinhos reagiram chamando de “traição” o fato de se terem exigido questões gramaticais!
O desconhecimento da gramática, por conta de um ensino deficiente, produziu uma consequência desastrosa: até mesmo professores formados desconhecem regras básicas de concordância e de coesão textual. Os universitários, por sua vez, aprendem toda a difícil metalinguagem linguística, mas não sabem distinguir o sujeito de uma oração. Linguistas sem preparo filológico ou sem maturidade atacam a gramática em livros demagógicos e cheios de erros doutrinários, inclusive linguísticos, como os de Marcos Bagno (A língua de Eulália, Preconceito lingüístico, Dramática da língua portuguesa, entre outros), que dizem aquilo que os professores querem ler e ouvir, mas não aquilo que deveriam saber. E tais livros são adotados não por terem algum mérito, que certamente têm, mas por fornecerem ao docente os argumentos de que precisa para justificar suas ideias preconcebidas.
Duas das soluções que preconizo mas que certamente não serão levadas em conta são: a primeira é a de que o vestibular deva ser por área ou, se se mantiver o vestibular unificado, a de que as provas sejam sequer (isto é, pelo menos) discriminadas por disciplina; e a segunda é a de que as redações dos vestibulandos devam ser corrigidas por professores de português que efetivamente entendam do riscado. Sei de pelo menos um professor que tem a audácia de participar da banca de correção das redações de vestibular e que não só manifesta de público sua ojeriza à gramática, mas também escreve mal, cometendo erros grosseiros de português em quase tudo que escreve, de tal forma que mal consegue redigir uma lauda sem cometer pelo menos um erro crasso.
Não entendo por que se devam pedir noções de química, de biologia, de física ou de geografia a um vestibulando que pretende fazer Direito ou Letras. Antes dessa aberração que é o vestibular unificado, cada faculdade tinha seu próprio vestibular e exigia conhecimentos pertinentes à área profissionalizante de sua especialidade. Não é por saudosismo que preconizo o retorno ao vestibular por área, mas por amor a um ensino mais eficiente e a um curso superior mais adequado às necessidades do aluno que o procura.
O resto é demagogia ou garantia de fracasso acadêmico
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